segunda-feira, 14 de abril de 2008

A Verdade

A Verdade (Carlos Drummond de Andrade)


A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.


Arrebentei a tal porta da verdade da qual Drummond se refere, e confesso que ainda não tinha a menor idéia da verdade nem ao menos dentro de mim, e tudo que eu mais precisava era escancarar tudo logo, para que tudo voltasse a ser simplesmente normal. Eu sempre disse que nunca me contentaria com rotinas, e hoje percebo que as rotinas me agradam muito mais do que qualquer aventura que possa estar por vir. Não me faço satisfeita com noites mal dormidas ou com sonhos incompreensíveis, fico feliz com a verdade pura.
Houve em alguma época algo que queimava dentro de mim, que chegava até a arder, como se existisse uma fogueira dentro de mim, que não se abalava a preço algum, até que um dia com minhas próprias lágrimas ela se apagou, pra sempre, mais eis que muito tempo depois alguma coisa começou a doer aqui dentro, e eu nem mesmo sabia de onde vinha esse dor, afinal, eu andava perdida no que diz respeito à essas coisas loucas que acontecem dentro da gente, até que descobri que talvez aquele fogo ainda estivesse aqui adormecido. Tentei de alguma forma o acordar, talvez fosse divertido, então percebi que tudo que resta aqui não são nada mais que cinzas, que significam que tudo já se apagou, e não volta mais. Hoje soprei as cinzas pra bem longe, e percebi que era o melhor a ser feito. E ponto final! Sim, ponto final, nunca mais vai existir nada do que já foi, sou apaixonada pelo passado, e não por alguém.
Só há um problema, quando essa porta é aberta, ela se abre para todos os lados, não só se diz a verdade, se escuta a verdade, e se eu pudesse eu optaria conforme a minha miopia, mas não deu. Hoje eu vi que com todos meus impulsos, tentando resolver qualquer coisa no que diz respeito a mim, e somente aos MEUS sentimentos, eu posso machucar alguém muito mais do que eu gostaria. Não é bom escutar toda a verdade, jogada na cara, quando se comete um “erro”, não é bom escutar de alguém o quanto gosta de você mas que realmente se decepcionou. Eu não pedi pra ninguém confiar em mim! E se eu não tinha sido sincera o suficiente, me desculpa! Mas não dava pra ser mais do que eu fui, eu não conseguiria. Eu sou humana, e eu realmente não sou, nem quero ser a melhor pessoa do mundo, essa sim é a verdade. Essa que talvez “não preste”, como aquela verdade saiu daquela boca, sou eu, não me idealize, ou pense que sou muito mais que isso, são meus pais que devem fazer isso. Eu? Depois de hoje eu vi que eu já machuquei muito mais do que fui machucada, que já bati muito mais, e eu não me sinto bem por isso. Vi naqueles olhos sentimentos que eu nem imaginava, tudo que me falaram foi verdade, a mais pura verdade, tal qual só com álcool é possível. E agora, publicamente, digo a maior verdade: chega de tudo isso, a verdade é que eu só gosto de mim, e por isso mesmo escolho ficar sozinha, e tentar dormir, e não mais sonhar. Escolho a verdade da razão.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Do alto do meu sentimentalismo

Andei pensando em meio às minhas 5001 coisas para fazer, quando foi que eu me tornei tão diferente do que fui um dia. Já que esse blog é um lugar pra todas as minhas reflexões, que antes cabiam nos finais de meus cadernos e nas camas onde eu estive, incluindo a minha, nada melhor do que colocar aqui o centro de alguns dos meus pensamentos nessas duas semanas.
Confesso, ainda sou sentimental, talvez se não fosse não mais escreveria. Mas agora sinto-me a pessoa mais fria, não no mundo, mas o mais fria que eu poderia ser. Não sei em qual esquina topei com esse racionalismo recente, mas ele me abraçou e assim ficamos, eu e a razão, não deixando que qualquer ato inconseqüente se aproximasse de mim. O racionalismo que ao me ver sonhando acordada, ou a ponto de entrar em qualquer coisa que se assemelhe a uma singela ilusão de vida, me manda entrar no meu mundo acadêmico e me enfiar na biblioteca pra pegar qualquer livro que ocupe meu tempo. Posso dizer que por esse tempo têm passado pela minha cama Hobsbawm, Lefebvre, Áries, Sylvanus Morley, Adrian Recinos, e até o Machado de Assis passou por aqui semana passada! Tudo para não pensar enquanto estou na cama, que é o momento em que analisamos o andamento de nossas vidas. E o pior de tudo é pensar que eu estou muito melhor assim, até as minhas fofocas tem sido sobre como o professor analisa o liberalismo de uma forma que me parece equivocada, ou sobre como só estudamos a parte a teórica de história política e econômica, deixando o meu grande amor, história cultural de lado.
Estou apaixonada! Pela história mexicana... São assim meus pensamentos...
E eis que dentre meu racionalismo eu encontrei o motivo de todas as bebedeiras universitárias que sistematicamente realizamos todas as semanas, é onde eu liberto todo meu sentimentalismo, ao ponto de chegar de uma festa e escrever um pseudo-poema no blog-vide o texto anterior-(como a maioria dos meus são). É lá, do alto do meu sentimentalismo bêbado que eu tenho minhas diversões e sensações que nem mesmo o códice Popol-vuh conseguiria realizar. Até a minha parte bêbada se tornou racional! Aproveito a noite pra voltar pra casa, sem pensar em nada, pros braços dos meus autores queridos. O difícil é acordar com alguém do lado! E aí sim e vejo que meu sentimentalismo não é 1/10 do que já foi, quando ao acordar com um abraço, eu começo a discutir a visão de democracia pra Rousseau... É, esse é o mais alto do meu sentimentalismo.

Sobre os autores:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Eric_Hobsbawm
http://www.encyclopedia.com/doc/1E1-LefebvreG.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sylvanus_Griswold_Morley
http://pt.wikipedia.org/wiki/Philippe_Ari%C3%A8s
http://en.wikipedia.org/wiki/Adrian_Recinos


Liberalismo(o básico):

http://afilosofia.no.sapo.pt/11Liberalismo.htm