domingo, 6 de dezembro de 2009

Minha hipocrisia




Escrevo nessa noite no escuro, enxergo o mesmo que eu vejo do meu futuro, nada muito claro, incertezas do caminho. Como minha função social sem dúvida é encarar de peito aberto o passado e escrever sobre ele, aqui vai outra postagem sentimental. Além dos motivos óbvios para escrever aqui, descobri que algumas pessoas acompanham toda a merda que eu escrevo, embora tudo seja sobre a minha vida mesmo, que não tem nada de tão empolgante. Enfim...
Ontem uma amiga triste, e um pouco bêbada, me dizia que ninguém nunca tinha se apaixonado por ela. Acho que isso é um pouco normal, já que muitos homens da nossa era perderam a sensibilidade. Mesmo assim, eu acredito que pior que não ter alguém que se apaixone por você, é não ter se apaixonado, não ter vivido toda essa besteira da juventude, não ter ficado suspirando pelos cantos e cantarolando aquelas músicas depressivas e românticas pelos cantos, isso sim é triste.
Outra amiga descobriu essa semana todos os porquês de seus medos de se apaixonar e mergulhar de cabeça na babaquice. Difícil. Assim mesmo, reticente, ela continua a se encantar pelas pessoas e de certa forma é fiel aos seus sentimentos, embora nunca se envolva de muito perto. Eu não consigo fazer uma análise disso, nem sequer imaginar como seria, pois eu, bem pelo contrário, praticamente entro de finca nas minhas paixões, mesmo que a minha credibilidade nelas seja hipócrita.
Hoje, aqui nesse colchão na sala, fiquei pensando sobre os dois casos. Às vezes eu praguejo a “raça” masculina, os chamo de insensíveis, frios, digo que não sentem nada. Quando na verdade eu não tenho nenhuma razão pra acreditar nisso. Talvez a insensibilidade esteja em mim, mesmo indo fundo nas minhas paixões, meu cinismo consegue ser muito maior. Tenho que dizer que já fui alvo de algumas paixões, algumas concretas, outras não, mas o fato é que eu não soube sentir tudo isso no momento certo. Sobre um dos primeiros pelos quais me apaixonei, que depois de algum tempo descobriu um sentimento por mim bem maior do que eu poderia suportar, eu acabei falhando, por opção. Enquanto ele me escrevia dos seus pensamentos sempre em mim, eu me lembrava dos rostos das festas, dos outros desejos, pensava apenas no meu próprio prazer. Quando ele chegou na minha porta com uma flor e um poema, eu simplesmente disse que não sentia mais nada. Fiquei pensando se eu realmente tinha me apaixonado de verdade, cheguei a conclusão que dos dois anos, 3 meses eu fui apaixonada, até que ele sentisse mais que eu, então acabou.
Logo depois, houve outro caso onde faltou sincronia. Enquanto ele me escrevia coisas lindas, eu estava pelas praias de Guarujá andando com um certo surfista. Pois é, eu realmente não presto. E depois, passei longos meses com aquele moreno na cabeça, uma fascinação que invadiu cada poro da minha pele, acho que o motivo foi físico, mas foi a primeira vez que isso aconteceu comigo.
Depois disso, deixei que se apaixonassem, enquanto eu permaneço apaixonada por 2 meses. Não sei o que dizer, mas hoje à noite eu realmente me senti mal com tudo que tenho feito. Para além da paixão, existe alguém a milhares de quilômetros que realmente gosta de mim. Mais do que qualquer um dos que me escreveram, fizeram poemas, ou tocaram o interfone de madrugada. Não acho que seja amor, mas ele seria capaz de estar aqui amanha se eu pedisse, de me trazer qualquer coisa no mundo que eu queira, só pra me ver sorrir. Mesmo discordando, aceita as minhas idéias, e está longe de achar que sou perfeita. Cada palavra que ele me diz só faz piorar as coisas, pois enquanto ele se preocupa todos os dias comigo, eu estou pela rua, vivendo desde março a loucura de estar no último ano, e a felicidade de viver no Brasil. Enquanto ele me manda cartas, eu preservo minhas paixões do passado, me iludindo com possibilidades.
Descobri no final das contas que esse é pior dos casos. Desculpem-me as outras, mas ganhei o campeonato! Já se apaixonaram por mim, já ouvi todo o tipo de declarações, e eu realmente me apaixono e vou fundo. Mas eu sou hipócrita, infiel, e respeito apenas as normas do meu próprio corpo, excedo o limite. Posso não mentir, mas eu omito, eles não sabem da metade das histórias, nem ninguém sabe.