segunda-feira, 19 de abril de 2010

Da poltrona





Sentada na minha poltrona, com meus livros e meus pensamentos, eu tentava encarar o frio daqueles dias. Com as atitudes rotineiras e o trabalho de cada dia que me consumia, tudo que eu queria naquela noite era continuar meu velho romance tcheco, aquele mesmo que sempre começo a folhear e nunca termino.
Não passava de mais uma noite dentre as quais fechei as portas e janelas para que nenhum som, ou qualquer daqueles ventos assombrosos adentrassem a pequena sala na qual eu me escondia. Eu escutava conversas lá fora, uma música qualquer que definitivamente não era do meu gosto, e tentava me concentrar só no meu infinito livro de 300 páginas.
Mas o edredom não estava conseguindo me esquentar, na verdade nesse tempo de hoje conseguiria essa proeza, o frio vinha de dentro de mim, mesmo com meu medo obsessivo dele.
Como de costume me levantei do meu sossego pra procurar leite na geladeira, não tinha... "Da cerveja você nunca esquece né!?" praguejei voltada pro vidro da janela. Resolvi fazer um café, mesmo sabendo que ele só pioraria minha insónia...

Voltei com o café pra poltrona e pra baixo do meu edredom gelado, e então a porta começou a bater. "Não acredito que deixei a porta aberta!!!". Levantei-me depressa pra impedir que qualquer vento congelante entrasse. E foi quando eu chegava perto da porta que eu senti, vinha algo quente, muito quente. Com tanto medo fui fechando depressa a porta, mas antes que eu pudesse trancá-la aquele ar quente, que tinha até cor, me tomou. Nunca senti tanto calor na minha vida!
E aquele raio infeliz de calor tropical não ia embora! Inferno...
E a noite passou, eu não dormi com tanto calor, eu suava, e virava pro lado, liguei o ventilador e nada, abri a janela e nada. Pra piorar todas aquelas influências das quais eu me mantinha afastada fechando a janela começaram a entrar. Ficou pior...

Mas logo pela manha eu comecei a pensar que não era tão ruim assim, talvez até houvesse sol no outro dia! E afinal de contas eu estava mesmo sentindo frio demais... Foi aí que percebi que o frio de dentro havia passado. Foi aí que eu vi que estava aproveitando os 40° tropicais. Foi aí que dali a pouco eu estava tomando margueritas e deixando meu livro e edredom de lado. Estranho. Abri a guarda.

E então numa infeliz noite daquelas eu acordei. Estava em baixo do meu edredom, ainda sentada na minha poltrona, com a mesma página eterna do livro aberta. O porta batia outra vez. "Mas que infelicidade essa merda de porta!". Levantei com mais frio do que nunca, ia fechar a porta, mas vinha um ventinho tão frio de lá de fora... Reinava o silêncio.
Agora sim eu termino aquele livro infinito.

domingo, 11 de abril de 2010

Agora




Você pediu e eu vou escrever.

Não quero repetir palavras do passado, nem imaginar as que direi no futuro, e isso geralmente não é uma coisa que me ocorre. Escrevo sempre sobre o passado, ou sobre o medo do futuro, mas agora tenho que falar do meu presente, daquele segundo que no mesmo momento em que nasce entra no campo da memória.

O hoje não pode ser compreendido tão facilmente quando o ontem, e não se espera tanto quanto o amanha. Não posso contar a história desse minuto, como você me perguntou ontem como eu contaria essa história e eu respondi que não sei, pois ainda não chegou ao fim, e nós, claro, sempre contamos algo a partir do que já sabemos do fim.

Agora eu tenho medo. Medo do futuro, medo desse instante passar. O agora? Vai muito bem obrigada.
O agora é expectativa, é estudo, felicidade, noites em claro, passeio nas ruas, beijos na tarde de domingo...
O agora é aflição, é uma falta de entendimento do que está acontecendo, no meu corpo, na minha mente, nas minhas ideias pressupostas.
É gosto em ouvir alguma música, é um cantarolar de coisas bestas, é um Coldplay eterno no mesmo ônibus cada dia.
É cheiro no travesseiro, toque da mão, cobertor e vento frio.
É trabalho, desespero, vontade de desistir e encantamento.
É segredo, é mistério, é cochicho ao pé da orelha.

O agora é só o agora, é a insônia com sono que sinto. É a confusão da minha cabeça, a falta de um corpo quente na cama, a mesma na qual dormi sozinha por tanto tempo e depois desses dias não suporto mais.