quinta-feira, 22 de julho de 2010

Ingenuidade

Hoje me disseram que eu sou ingênua. Fiquei pensando se esse é realmente o caso.
Acho que primeiro tenho que explicar aqui que além de ser “historiadora” trata-se de uma profissão acadêmica não remunerada, essa que necessita que tenhamos algum outro auxílio técnico para que possamos nos manter na profissão. Pois bem, mesmo estando no mestrado da melhor universidade do país eu não tenho bolsa para isso, assim necessitei de um emprego e acabei vindo trabalhar num Instituto Social, mas especificamente num NPPE, os locais para onde os jovens que adolescentes que tem que cumprir medida socioeducativa são encaminhados.
Assim meu trabalho é meio de assistente social, com psicóloga misturado com pedagoga. Mas o detalhe é que eu não tenho formação pra esse tipo de trabalho... Solução da história toda, venho trabalhando com meu coração. Eu realmente me interesse pela vida desses meninos, quero conhecê-los e ajudá-los no que eu puder, ir até onde eu alcanço. Claro que eu já estou ficando meio doida da cabeça lidando com tantos problemas e com tantas família que vivem abaixo de qualquer coisa que possamos chamar de sociedade, a verdade que descobri é que vivemos na barbárie, só a classe média ainda não percebeu enjaulada nos seus apartamentos.
Desta forma, minha maneira de trabalhar acaba sendo tachada como ingênua. Tudo bem, sou realmente jovem, tenho cara de menina boba, eu sempre soube disse, meus colegas de faculdade nunca me deixaram esquecer os porquês eu acabava por não fazer parte da turminha deles... Mas a realidade é que não acredito que tenho agido com ingenuidade, eu tenho trabalhado com o meu coração. Eu sei quando um desses meninos mente, quando eles estão chapados, ou quando querem apenas me sensibilizar. Mas a verdade é que eles não precisam de palavras pra isso, a própria situação já me sensibiliza, a forma como eles são tratados pelo mundo acaba comigo.
Não é ingenuidade, é só a percepção de que o problema está muito mais embaixo, que o problema não é o “moleque preguiçoso” que não quer trabalhar e vai parar na “vida bandida”, o problema não é o pai que bebe, a mãe que é relapsa ou a falta de uma “bela surra”. O problema é essa barbárie meus caros. Hoje ouvi também que me sobra teoria, realmente. Mas eis um dos problemas dos nossos problemas, falta teoria! Falta aos estudiosos tentarem compreender um pouco mais da dinâmica do nosso sistema hoje, da nossa não civilização, mas sim da nossa barbárie. Falta todo mundo parar de culpar os infratores ou os policiais ou os políticos corruptos. Eu já disse o buraco está muito mais embaixo.

Agora se sou ingênua com relação a esses meninos, eu pretendo continuar, já que eu não posso mudar toda essa dinâmica desse mundo, eu posso ao menos trabalhar com o meu coração e com meu afeto, com a minha ajuda, com as palavras. E eu vou levar comigo o único ponto do qual eu me orgulho de não ser tão ingênua, a certeza de que mesmo que eu consiga com que todos os jovens que oriento deixem a “vida bandida” e se tornem serviçais da nossa barbárie nada terá mudado, o ciclo continuará o mesmo, sempre e sempre... Mas tudo bem, esse é meu trabalho afinal de contas, como o trabalho de quase todo mundo no planeta, eu trabalho para manter o sistema!



segunda-feira, 12 de julho de 2010

As novas novidades

Faz um tempo que não posto nada, mas isso não significa que não ando escrevendo, pelo contrário, meus cadernos e agenda andam cheios de textos, versos e etc, mas nada que realmente mereça estar aqui, ou então são coisas que eu prefiro esconder. Mas hoje eu estou sentindo falta de compartilhar algumas coisas, esse turbilhão de novidades que tem passado pela minha vida.
Pra começar eu sou uma caipira na capital, e cada dia algo novo me mete medo. Mas tudo bem, força nunca me faltou mesmo, então encaro tudo de peito aberto e vou em frente.
Depois de todos os perrengues pelos quais passei comecei a trabalhar, o lugar é legal, as pessoas são legais e o trabalho é difícil, mas eu gosto. Comecei a gostar da rotina, do salário e da vida adulta.
E aí eu passei no tal mestrado e continuo seguindo com os sonhos que planejei pra mim. Pra melhorar um pouco eu e uma amiga conseguimos alugar um apartamento exatamente no lugar que queríamos, perfeito. Hoje depois do trabalha vou comprar minha cama, uma grande, vou ficar meio apertada mas é exatamente como eu quero.

Agora os questionamentos: Como é que eu posso estar em crise se tudo que eu sonhei está dando certo? Se nada até agora deu errado?
Esse é o problema, “quando a esmola é demais o santo desconfia”.
Como o Instituto social pra qual eu trabalho recebe verba pública, ele também tem que obedecer às normas para os serviços que realizamos, e agora saiu uma nova portaria com novas dessas normas e regras que temos que seguir. (Estou tão cansada das normas!)
E uma delas é que só pessoas formadas em alguns cursos podem realizar o trabalho que eu faço, e história não é um desses cursos, pra variar né, quem fez história quase não tem opção de trabalho.
E aí vem o meu medo de cair o barraco. O aluguel do lugar que eu vou morar é caro, se eu for despedida eu não tenho como pagar. Vou pedir bolsa de mestrado, mas se o meu projeto for aceito ela só começa a vir em novembro.

Além da questão do dinheiro me importar, eu me importo com o meu trabalho, eu já até fiquei pensando no quão difícil será largar esse lugar quando chegar uma bolsa, e hoje eu ouvi que só estou aqui pelo dinheiro. E não é bem assim.

Bom, aconteça o que acontecer vai ser só mais uma coisa na minha vida que foi difícil. Tudo sempre é difícil, e eu nunca vou viver sem preocupação no âmbito financeiro, foi a vida que escolhi pra mim, agora agüenta.