segunda-feira, 31 de maio de 2010

Intermédio

“Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.”







Sempre que eu passo pelo metrô Paraíso ou pelo Clínicas eu vejo esse mesmo poema... Não posso deixar de me identificar com ele, é como se representasse essa nova fase da minha vida. Eu me sinto qualquer coisa de intermédio.

Semana passada, na quarta-feira, duas coisas importantes aconteceram no meu dia, duas reuniões de grupo com os meninos que são orientados por esse Núcleo de Proteção Psicossocial Especial e a reunião mensal do grupo de estudos do qual faço parte na USP (Centro de Estudos Mesoamericanos e Andinos). Esse dia eu me senti o mais intermédio possível.

Eu não estou no mesmo mundo desses meninos de quem cuidamos, todos tem passagem pela Fundação Casa, cumprem Liberdade Assistida ou Prestação de Serviços à Comunidade. Todos que estavam nos grupos da quarta-feira são negros, todos moradores de periferias da Zona Sul de São Paulo. Todos com famílias desestabilizadas, todos sem perspectiva, todos vivendo à margem de tudo na vida, e a maioria deles viverá pra sempre assim. Quase ninguém falava no grupo, eles não tem uma boa cognição, quase todos são praticamente analfabetos, e de uma maneira pior que os tais analfabetos funcionais. Muitos vão morrer antes dos 30, ou antes dos 40, ou vão passar grande parte da vida presos. E não há muito o que fazer, são excluídos por todos os setores, educação, tratamentos...

Depois desses grupos que aconteceram pela tarde eu fui pra reunião discutir um texto de um mega pensador, como sempre o fazemos. Quando eu cheguei lá também não me senti pertencendo àquele lugar. Todos brancos, a maioria já na pós-graduação da melhor faculdade do país. Pessoas que falam pelos cotovelos, que atropelam a fala do outro, que falam como se escrevessem, quase uma outra língua comparando com os meninos que oriento. A academia nunca entenderia esses meninos. Todas as pessoas ali sentadas são de classe média, alguns vão pro México a passeio, outros ficam o dia todo lendo e lendo... Eu também não sou uma dessas pessoas.

Eu sou mesmo pilar da ponte de tédio. Perdida entre dois mundos completamente diferentes, sem saber ao certo o que fazer quando estou em cada um desses mundos. Sem saber bem pra onde ir, o que fazer ou o que falar. Mas o pior é que não posso, de alguma forma, ser bem aceita por qualquer um desses dois mundo, pois eu não sou um nem sou o outro...

Um comentário:

Rosinha disse...

Lindo seu blog Joyce, texto bem elaborado bem escrito. continue pensando assim moça.O intermedio tambem pode ser perfeito.
Vou vim muitas vezes aqui.
Xero.