domingo, 6 de setembro de 2009

Eu consigo ver...



Eu consigo ver o castanho dos meus olhos.
Por muito tempo eu achei que eles tinham um castanho extremamente comum, um castanho sem graça, com a mesmice de sempre. Olhava a minha volta os olhos negros, os olhos verdes, azuis, cinzas. Olhos com expressão, com cílios longos, ou curvados, ou loiros. Olhos torneados, puxados ou grandes. Olhos verdes durante o dia e castanhos pela noite. Olhos que só apresentam toda sua beleza quando se enchem de lágrimas.
Mirando todos os olhos das ruas onde percorri pensava: “que comuns os meus, sem expressão alguma, sempre os mesmo olhos, sempre em direção ao chão”.
Uma vez disseram: “Que bonitos olhos cor de mel tens”. Somente uma vez. Os outros elogios por toda minha vida percorreram desde “ela é tão inteligente”, “você realmente tem senso de humor” àqueles elogios puramente corporais, que sem dúvida são os mais freqüentes.
No entanto eu nunca escuto ninguém falar dos meus olhos, nem mesmo os que se dizem apaixonados. Sinto que se fechar os olhos e perguntar mesmo aos meus pais a cor deles, eles dirão apenas castanhos.
Mas depois de ter a certeza que eles eram somente isso eu percebi que não. Eu consigo vê-los. São mais escuros pela noite, e se fecham quando eu sorrio. Fica maiores e mais brilhantes, de um castanho mais claro quando me apaixono. Quando estou muito feliz, ou chorando, na parte de baixo da íris aparece uma linha verde, que se confunde com o castanho claro e o escuro e vão se misturando as cores.
Hoje eu enxerguei tudo que eles têm a dizer, cada segredo que ninguém leu. E nem precisará.
Eu consigo enxergar através do castanho dos meus próprios olhos e olho em frente.

Um comentário:

Beto disse...

Que lindos olhos vc tem?