terça-feira, 23 de novembro de 2010

Silêncio





Está chovendo, de novo. E eu aqui parada olhando pela janela um prédio antigo, talvez se eu soubesse mais de arquitetura entenderia melhor os traços do prédio...



Sexta-feira passada, no trabalho, tivemos uma formação sobre comunicação, e além de aprender como ela deveria ser feita com nossos alunos, eu me dei conta de como ela não é feita no mundo, as pessoas não se comunicam nunca! Lendo um texto de Rubem Alves me deparei com a realidade de que as pessoas nunca vivem no silêncio necessário para que possam ouvir outras idéias, ou mesmo aquelas palavras que lhe são ditas, com pressa ou desespero. Não há mais silêncio, e tudo que precisamos muitas vezes é silêncio, para pensar, trabalhar, ou ser ouvido. Como um pianista que precisa de um momento de silêncio para que possa se concentrar no que fará nos próximos minutos.

Vivemos na era da comunicação e ao mesmo tempo nos falta comunicação. Talvez seja por isso que existam tantos blogs como o meu, é quase uma súplica das pessoas que escrevem que alguém nos ouça em silêncio, que possa ouvir somente essas palavras e respeitar os segundos de silêncio posteriores para entender as palavras, as idéias, os porquês.

Tenho praticado o silêncio nas terças e nas quintas, são mais de 12 horas sem comunicação, sem qualquer bom dia, sem trabalho... E acho que talvez isso me enlouqueça, é tempo demais para lidar com minhas próprias idéias, comigo mesma, com meus sonhos e frustrações depois de ter vindo parar na Babilônia.

Sozinha, em silêncio, é só o necessário para repensar, perceber que não há nada de errado, que tudo tem sido exatamente como planejado, como o sonhado.
O problema é que é impossível planejar tudo, e quando algo sai do caminho... Vem um vento rápido e te leva direto para o que realmente queria, e só não sabia até então por que não ficou em silêncio com sua consciência, questionando-a sobre suas reais vontades... E aí o sol saí, o prédio antigo fica novo, e nada mais é cinza...




segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ciúmes





Tenho muitos romances passados e perdidos no tempo. Mas eu nunca os esqueço. Na verdade a maioria deles continuam numa vivacidade elétrica dentro de mim, que se renova com meus sonhos ou no meu ciúme.

A maior parte desses pequenos romances/encantamentos passageiros vieram na "época" da faculdade. Ou seja, estão realmente perdidos no tempo e principalmente no espaço. Alguns tão longe na estrada, ou no mar, ou na memória. Mas o fato é que não os esqueço. Nem um só momento, aqueles nos quais soltei todo o meu lirismo, todo meu corpo e meu fôlego.
Mas como esquecer essas pessoas que me fizeram tão bem por um tempo?
Prefiro dizer que sempre serão boas recordações. Eu jamais poderia me desvencilhar das minhas lembranças. Vivo com elas.

Eu gostaria que minhas lembranças fossem apenas isso por elas mesmas, mas na verdade elas também estão embutidas no corpo daquelas pessoas com as quais estive. E quando vejo outro corpo junto ao deles, ou outras palavras que se assemelham às minhas... Ai, não há como não sentir a perda, não sentir uma pontinha de ciúme. Justo eu que sempre fui contra esse tipo de prisão ideológica... Apenas não gosto de imaginar, de ver.

Aquele meu último romance preferi apagar do papel, mas ainda não o apaguei da memória. Fazer o que se todas as segunda e quartas ando por aquela Marginal Pinheiros olhando os prédios próximos. Fazer o que se sonhei justo com aquele momento em que ele abriu a janela pra ficar olhando meu rosto. E dele eu não posso ter ciúme, seria absurdo, complicado, e imensamente sem sentido.

Mas vou seguindo com o ciúme dos outros. Desejando, de verdade, que tudo de melhor aconteça com os mesmos, mas que não interfiram nas minhas lembranças...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Gente Grande

Faz tempo que não escrevo aqui. Mas o meu caderninho está cheio de textos e poemas bem bestas sobre as visões de mundo da Joyce.
Enfim, essa semana tive uma constatação que resolvi compartilhar: Entrei pro mundo dos adultos, sou gente grande agora.

Sempre que imaginamos nossa vida adulta quando crianças, pensamos que se trata de casamento e filhos. Mas não, é trabalho e responsabilidade!
Essa semana eu simplesmente disse um não, com bastante ênfase, para os jogos universitários da minha antiga faculdade. Aí que eu percebi que realmente algo de muito estranho aconteceu comigo esse ano... Refleti sobre as razões desse não, o dinheiro eu tenho, o feriado também, quase todos os meus amigos vão. Então por que eu não iria?
A verdade é que imaginei o meu feriado lá naquela loucura, e imaginei o meu feriado estudando, preparando minhas aulas e inclusive indo trabalhar na segunda-feira. Deparei-me com o inusitado, eu prefiro estudar, trabalhar e ficar no aconchego do meu lar, sozinha com meus filmes, e quiçá com uma visita materna.

Acho mesmo que virei gente grande, eu só não esperava que iria me tornar uma mulher assim. Imaginei que como todo mundo iria odiar meu trabalho, iria odiar ler todos os textos do mestrado, e não gostar de beber uma cerveja vendo televisão antes de dormir.
Mas querem saber? Eu estou adorando tudo isso. Finalmente voltei a fazer o que mais gosto no mundo: dar aulas! E melhor, numa ONG com um projeto pedagógico realmente bom. Durmo na minha própria cama, no apartamento que eu pago aluguel... Pago todas as minhas contas (em dia! embora o salário seja pequeno). E ainda posso me dar ao luxo de ir numa quarta-feira com minhas amigas no rodizio japonês e ter brahma na geladeira pra quando eu quiser.

Sabem, saber que acordo cedo todos os dias com um propósito, imaginar que eu posso fazer qualquer coisa no mundo, como morar um tempo no México no ano que vem, faz com que eu sinta as asas crescendo nas minhas costas.

Nunca imaginei que o mundo dos adultos poderia realmente ser bom e me agradar. Acho mesmo que virei gente grande...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Pára o mundo que eu quero descer





Bem que minha mãe falava pra eu não fazer a tal faculdade de história, mas eu “temei” em fazer exatamente aquilo que me fascinava. Vai ver eu não penso no futuro a longo prazo, só no futuro próximo, é isso, eu só pensei no quanto seria bom aqueles próximos 4 anos fazendo o que eu mais gosto, estudar história.
Mas não adianta lutar contra o sistema, bem que eu queria ter forças suficientes para isso, mas depois de formada, agora me vejo totalmente englobada pela falta de dinheiro que assola a humanidade.
Vim parar nessa Babilônia descompassada em busca de outro sonho, mas como sempre vivi meio fora do sistema não pensei muito em como eu faria para comer e morar. Enfim, consegui um emprego, muito bacana por sinal, mas claro, eu continuo de fora, fora do idealismo corrente da classe média, fora dos padrões inteligíveis de maneira geral, e só pra piorar um pouquinho: eu sou formada em história, o que não me habilita pra quase nenhuma função do mundo, e ser professora nessa cidade é difícil. Resultado: fui demitida. DISPENSADA, imagina só essa palavra linda na sua carteira de trabalho! E pior, eu não fui DISPENSADA pela minha falta de capacidade, mas por que sou formada em história, e isso não me habilita mais a exercer a mesma função de acordo com uma nova merda de portaria da prefeitura.
Depois de meses acordando mal humorada, passando frio perto de uma represa, engolindo todos os sapos que eu podia, comendo pouco para que as pessoas parem de comentar o quanto eu como muito (e as refeições quem fornece é o lugar onde trabalho, embora isso seja totalmente ilegal, já que são usadas verbas públicas que não são descritas como gastas dessa forma), além de ficar até mais tarde no trabalho, tentar agradar todo mundo, fazer amizade, esconder meus mil e um defeitos... Depois de tudo isso, e ainda ganhando mal, DISPENSADA.
Pra piorar existe o tal do aviso prévio, se eu pudesse eu mandava logo (essa pessoa que eu realmente quero mandar) ir cagar! Pronto! Mas não, ainda estou no 3º dia do aviso prévio, só cumpri 10% e já não agüento mais!
Imagina você ter que ir trabalhar todos os dias sabendo que já foi demitida, QUE BOM, se alguém queria motivação agora não está faltando viu.
Ah, quase ia me esquecendo, o salário desse mês está atrasado, e eu tenho que pagar conta de luz, condomínio, aluguel, e às vezes comer é bom também. Eu cansei! Para tudo! Ainda tive que escutar hoje que caso eu me atrase outra vez vai ser descontado do meu salário, meu Deus! Nem ficar depressiva na cama eu posso! Eu não posso nem chorar e me descabelar nesse lugar, por que a última vez que tentei tive que fazer isso dentro do banheiro e 5 minutos já tinha alguém me procurando.
E ainda tem o meu mestrado, preciso mandar uma série de documentos para a FAPESP, os quais eu nem comecei a organizar ainda, sem contar que falta uma série de retoques no meu projeto, tudo isso pra começar a receber pelo que realmente gosto de fazer em março do próximo ano.
Eu também quero dispensar, quero dispensar o mundo, dispensar as cobranças, não só as que envolvem dinheiro, mas aquelas: você tem que se destacar no mestrado, ter um bom trabalho, comprar um carro, manter um relacionamento estável, ser magra, ser a melhor amiga que escuta todos os problemas, a melhor filha que escuta todos os problemas, a melhor companheira que escuta todos os problemas, e ainda andar todos os dias bem arrumada, cheirosa e com o cabelo bonito! CHEGA! PÁRA TUDO! Pára esse mundo, pelo amor de Deus, eu quero descer...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Ingenuidade

Hoje me disseram que eu sou ingênua. Fiquei pensando se esse é realmente o caso.
Acho que primeiro tenho que explicar aqui que além de ser “historiadora” trata-se de uma profissão acadêmica não remunerada, essa que necessita que tenhamos algum outro auxílio técnico para que possamos nos manter na profissão. Pois bem, mesmo estando no mestrado da melhor universidade do país eu não tenho bolsa para isso, assim necessitei de um emprego e acabei vindo trabalhar num Instituto Social, mas especificamente num NPPE, os locais para onde os jovens que adolescentes que tem que cumprir medida socioeducativa são encaminhados.
Assim meu trabalho é meio de assistente social, com psicóloga misturado com pedagoga. Mas o detalhe é que eu não tenho formação pra esse tipo de trabalho... Solução da história toda, venho trabalhando com meu coração. Eu realmente me interesse pela vida desses meninos, quero conhecê-los e ajudá-los no que eu puder, ir até onde eu alcanço. Claro que eu já estou ficando meio doida da cabeça lidando com tantos problemas e com tantas família que vivem abaixo de qualquer coisa que possamos chamar de sociedade, a verdade que descobri é que vivemos na barbárie, só a classe média ainda não percebeu enjaulada nos seus apartamentos.
Desta forma, minha maneira de trabalhar acaba sendo tachada como ingênua. Tudo bem, sou realmente jovem, tenho cara de menina boba, eu sempre soube disse, meus colegas de faculdade nunca me deixaram esquecer os porquês eu acabava por não fazer parte da turminha deles... Mas a realidade é que não acredito que tenho agido com ingenuidade, eu tenho trabalhado com o meu coração. Eu sei quando um desses meninos mente, quando eles estão chapados, ou quando querem apenas me sensibilizar. Mas a verdade é que eles não precisam de palavras pra isso, a própria situação já me sensibiliza, a forma como eles são tratados pelo mundo acaba comigo.
Não é ingenuidade, é só a percepção de que o problema está muito mais embaixo, que o problema não é o “moleque preguiçoso” que não quer trabalhar e vai parar na “vida bandida”, o problema não é o pai que bebe, a mãe que é relapsa ou a falta de uma “bela surra”. O problema é essa barbárie meus caros. Hoje ouvi também que me sobra teoria, realmente. Mas eis um dos problemas dos nossos problemas, falta teoria! Falta aos estudiosos tentarem compreender um pouco mais da dinâmica do nosso sistema hoje, da nossa não civilização, mas sim da nossa barbárie. Falta todo mundo parar de culpar os infratores ou os policiais ou os políticos corruptos. Eu já disse o buraco está muito mais embaixo.

Agora se sou ingênua com relação a esses meninos, eu pretendo continuar, já que eu não posso mudar toda essa dinâmica desse mundo, eu posso ao menos trabalhar com o meu coração e com meu afeto, com a minha ajuda, com as palavras. E eu vou levar comigo o único ponto do qual eu me orgulho de não ser tão ingênua, a certeza de que mesmo que eu consiga com que todos os jovens que oriento deixem a “vida bandida” e se tornem serviçais da nossa barbárie nada terá mudado, o ciclo continuará o mesmo, sempre e sempre... Mas tudo bem, esse é meu trabalho afinal de contas, como o trabalho de quase todo mundo no planeta, eu trabalho para manter o sistema!



segunda-feira, 12 de julho de 2010

As novas novidades

Faz um tempo que não posto nada, mas isso não significa que não ando escrevendo, pelo contrário, meus cadernos e agenda andam cheios de textos, versos e etc, mas nada que realmente mereça estar aqui, ou então são coisas que eu prefiro esconder. Mas hoje eu estou sentindo falta de compartilhar algumas coisas, esse turbilhão de novidades que tem passado pela minha vida.
Pra começar eu sou uma caipira na capital, e cada dia algo novo me mete medo. Mas tudo bem, força nunca me faltou mesmo, então encaro tudo de peito aberto e vou em frente.
Depois de todos os perrengues pelos quais passei comecei a trabalhar, o lugar é legal, as pessoas são legais e o trabalho é difícil, mas eu gosto. Comecei a gostar da rotina, do salário e da vida adulta.
E aí eu passei no tal mestrado e continuo seguindo com os sonhos que planejei pra mim. Pra melhorar um pouco eu e uma amiga conseguimos alugar um apartamento exatamente no lugar que queríamos, perfeito. Hoje depois do trabalha vou comprar minha cama, uma grande, vou ficar meio apertada mas é exatamente como eu quero.

Agora os questionamentos: Como é que eu posso estar em crise se tudo que eu sonhei está dando certo? Se nada até agora deu errado?
Esse é o problema, “quando a esmola é demais o santo desconfia”.
Como o Instituto social pra qual eu trabalho recebe verba pública, ele também tem que obedecer às normas para os serviços que realizamos, e agora saiu uma nova portaria com novas dessas normas e regras que temos que seguir. (Estou tão cansada das normas!)
E uma delas é que só pessoas formadas em alguns cursos podem realizar o trabalho que eu faço, e história não é um desses cursos, pra variar né, quem fez história quase não tem opção de trabalho.
E aí vem o meu medo de cair o barraco. O aluguel do lugar que eu vou morar é caro, se eu for despedida eu não tenho como pagar. Vou pedir bolsa de mestrado, mas se o meu projeto for aceito ela só começa a vir em novembro.

Além da questão do dinheiro me importar, eu me importo com o meu trabalho, eu já até fiquei pensando no quão difícil será largar esse lugar quando chegar uma bolsa, e hoje eu ouvi que só estou aqui pelo dinheiro. E não é bem assim.

Bom, aconteça o que acontecer vai ser só mais uma coisa na minha vida que foi difícil. Tudo sempre é difícil, e eu nunca vou viver sem preocupação no âmbito financeiro, foi a vida que escolhi pra mim, agora agüenta.



terça-feira, 8 de junho de 2010

Mais noites em camas alheias

Quero voltar a falar das camas alheias, talvez eu siga com a idéia corajosamente nos próximos textos, veremos...

Há mais de um ano eu durmo apenas em camas alheias, ano passado eu morava de favor no apartamento de uma amiga, dormindo numa cama que não era minha, embora eu quase sempre me refugiasse em colchões de repúblicas ou em meu humilde colchãozinho uberabense.

Esse ano a história se repete, mas de uma forma que me machuca mais. Acabei vindo pra São Paulo buscando um sonho que talvez seja alto demais pras minhas pernas, e fui acolhida pela mãe de uma grande amiga. Estou aqui há pouco mais de 4 meses, mas demorou bastante para que as coisas começassem a dar certo aqui, portanto, no final das contas, acabei ficando tempo demais em outra cama que não me pertence; e agora percebo o quanto as incomodo.

Eu sou o cúmulo do desastre, quebro muitos copos, queimo as coisas, vivo batendo a cabeça em lugares inimagináveis e caindo o tempo todo, ninguém gosta de morar com alguém assim. Eu sou desligada, e as vezes folgada, isso incomoda bastante. Mas pra mim é pior... Apenas meu edredom é meu, e eu não consigo relaxar... Houve um mês, de todos esses aqui, no qual encontrei um refúgio, uma outra cama que até acabou sendo minha de alguma forma; e ela continua sendo, eu sei que ela fica lá intacta todas as noites. Mas enfim, não tenho mais refúgio algum, agora tenho rotina: saio de casa o mais cedo que consigo, chego no trabalho antes de todo mundo, fico o dia todo pensando e escrevendo, não posso conversar com os companheiros de trabalho, acho que muitos deles acham que sou bem burra e ingênua, normal; fico no trabalho até tarde, depois costumo ir me trancar numa sala da USP e quando eu tenho sono vou pra casa dormir, mas a cama já não é tão confortável, dificilmente consigo...
Mas nos finais de semana eu desapareço, meus amigos devem me achar a pessoa mais estranha do mundo. Um desses finais de semana fiz umas outras mineiras ficarem grudadas em mim o tempo todo, e até cheguei e pedi um cantinho no sofá num sábado a noite!

E outro desses finais de semana então! Aceitei, facilmente, um convite pra dormir na casa de um velho amigo. Óbvio. Mas no domingo eu não queria ir embora, coitado, deve ter tido a certeza de que eu sou meio doida mesmo... Mas o pobre não sabia que eu só não queria voltar, por que quando eu volto e não encontro o meu lugar, não encontro nada que seja meu, eu me desespero, e fico assim, uma deslocada na Terra!
Não sei quanto tempo vai demorar para que eu tenha uma cama, por que até lá isso pode me consumir e me fazer voltar pra terrinha. Veremos... O fato é que agora eu estou mais calma, voltando do tempo feliz com a família, com bastante força... E bem animada com as prospecções!

Mas eu continuo esperando poder comprar uma cama enorme só pra mim!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Sonhei






Sonhei que estava num hospital, deitada na maca, era o dia do parto. Eu sentia muita dor, e minha barriga estava enorme. Então eu sentia alguma coisa se mexendo dentro de mim e como se fosse a coisa mais fácil do mundo ele nascia. Antes que eu pudesse ver o seu corpinho, ou o seu rosto, eu desmaiei. De repente eu estava na cama da minha mãe, mas onde está ele? Onde está o bebê? Estava no hospital, já havia se passado 4 dias desde seu nascimento.
Fui buscá-lo e entregaram no meu braço um pacotinho azul, era a coisa mais linda que eu já tinha visto, se parecia comigo, tinha o cabelo da cor do meu e os cílios longos.
Eu o vi e já o amava mais que tudo que eu poderia imaginar, de um jeito que doía...
Voltei para a casa, todos me perguntavam do pai, eu falei que não sabia. Mentira, é claro que eu sabia.
Eu não conseguia parar de olhar pra ele. Eu senti até mesmo meu peito pingar um pouco de leite no momento em que ele chorava de fome. Meu Deus, eu senti o leite saindo meu seio esquerdo!
Fiquei oilhando para ele enquanto amamentava, pensava no nome. Pensei se perguntaria ao pai o melhor nome, refleti, é melhor que ele não soubesse do bebê.
Olhei aqueles olhos tão expressivos do meu bebê, eu falei Miguel, e ele sorriu...

Então o despertador tocou, 06:40 da manhã, tenho que trabalhar.
Fiquei sentada no trem pensando que se Freud estivesse vivo eu ia me consultar com ele!

ps: não estou grávida!

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Intermédio

“Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.”







Sempre que eu passo pelo metrô Paraíso ou pelo Clínicas eu vejo esse mesmo poema... Não posso deixar de me identificar com ele, é como se representasse essa nova fase da minha vida. Eu me sinto qualquer coisa de intermédio.

Semana passada, na quarta-feira, duas coisas importantes aconteceram no meu dia, duas reuniões de grupo com os meninos que são orientados por esse Núcleo de Proteção Psicossocial Especial e a reunião mensal do grupo de estudos do qual faço parte na USP (Centro de Estudos Mesoamericanos e Andinos). Esse dia eu me senti o mais intermédio possível.

Eu não estou no mesmo mundo desses meninos de quem cuidamos, todos tem passagem pela Fundação Casa, cumprem Liberdade Assistida ou Prestação de Serviços à Comunidade. Todos que estavam nos grupos da quarta-feira são negros, todos moradores de periferias da Zona Sul de São Paulo. Todos com famílias desestabilizadas, todos sem perspectiva, todos vivendo à margem de tudo na vida, e a maioria deles viverá pra sempre assim. Quase ninguém falava no grupo, eles não tem uma boa cognição, quase todos são praticamente analfabetos, e de uma maneira pior que os tais analfabetos funcionais. Muitos vão morrer antes dos 30, ou antes dos 40, ou vão passar grande parte da vida presos. E não há muito o que fazer, são excluídos por todos os setores, educação, tratamentos...

Depois desses grupos que aconteceram pela tarde eu fui pra reunião discutir um texto de um mega pensador, como sempre o fazemos. Quando eu cheguei lá também não me senti pertencendo àquele lugar. Todos brancos, a maioria já na pós-graduação da melhor faculdade do país. Pessoas que falam pelos cotovelos, que atropelam a fala do outro, que falam como se escrevessem, quase uma outra língua comparando com os meninos que oriento. A academia nunca entenderia esses meninos. Todas as pessoas ali sentadas são de classe média, alguns vão pro México a passeio, outros ficam o dia todo lendo e lendo... Eu também não sou uma dessas pessoas.

Eu sou mesmo pilar da ponte de tédio. Perdida entre dois mundos completamente diferentes, sem saber ao certo o que fazer quando estou em cada um desses mundos. Sem saber bem pra onde ir, o que fazer ou o que falar. Mas o pior é que não posso, de alguma forma, ser bem aceita por qualquer um desses dois mundo, pois eu não sou um nem sou o outro...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Mineira X Paulistas





A velha rixa de mineiro e paulistas... Ô vida essa viu, depois de quatro anos morando no interior de São Paulo, onde as pessoas já quase não entendiam o espírito do bom caipira e juravam que interior de São Paulo de Minas é tudo igual, vim parar nessa cidade “por conta das circunstâncias”.

Que difícil, é só eu abrir a boca e dizer qualquer palavra que demonstrem todo o meu sotaque pra esses malditos pensarem, coitadinha que burrinha, ou então que eu sou uma mineira inocente!
Ai jisuis, se essa palavra inocência me pertencesse!
Tem um certo moço que trabalha comigo que tem um desdém para com minha pessoa, que eu vou te contar! Nunca vi alguém achar que eu sou tão burra assim, mas deixa, deixa ele achar que eu sou tapada mesmo. O pior é: o bom mineiro jamais se importa, continua no falar manso, e de jeitinho em jeitinho vai terminando tudo que começou e tapando a boca dos mardito paulista, e pior: paulistanos!

Outra coisa, os moço que querem me “namorar” tudo acham que eu sou moça besta, que sou moça burra, e que sou moça que quer casar. Ai vida, como é difícil ser mineira na capitar...

Pois vocês acreditam que um dia desses um paulista duma figa (do interior também o coitado) disse que eu deveria disfarçar meu sotaque nas entrevistas de emprego... Onde já se viu! Faz parte da minha identidade UAI!

Eu mereço, só por que eu sou mineira e bonita, como conseqüência tenho que ser burra e ingênua, e pior: fraca!

Agora, deixa eu contá uma coisa procêis: eu sou é muito forte viu, quase ninguém com a minha idade já viveu o que eu vivi, sabe o que eu sei, e tem a coragem que enfrentar esse mundão de meus Deus, como eu tenho, com a mãe no peito dizendo "vem que eu dô conta".

E outra coisa caros leitores, se alguma vez eu lhes pareci fraca pelas coisas que aqui escrevi, sinto muito, foi de propósito mesmo. Assim como cada coisa doida que eu faço é calculada! E “Sigam-me os bons!”

E quer saber povo, eu sou exatamente o que está aqui, todos esses textos desse blog, as vezes eu me arrependo de ser, e as vezes fujo disso, mas sou.

E sou mesmo mineira viu, mas num sou besta não! Uai sô!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Da poltrona





Sentada na minha poltrona, com meus livros e meus pensamentos, eu tentava encarar o frio daqueles dias. Com as atitudes rotineiras e o trabalho de cada dia que me consumia, tudo que eu queria naquela noite era continuar meu velho romance tcheco, aquele mesmo que sempre começo a folhear e nunca termino.
Não passava de mais uma noite dentre as quais fechei as portas e janelas para que nenhum som, ou qualquer daqueles ventos assombrosos adentrassem a pequena sala na qual eu me escondia. Eu escutava conversas lá fora, uma música qualquer que definitivamente não era do meu gosto, e tentava me concentrar só no meu infinito livro de 300 páginas.
Mas o edredom não estava conseguindo me esquentar, na verdade nesse tempo de hoje conseguiria essa proeza, o frio vinha de dentro de mim, mesmo com meu medo obsessivo dele.
Como de costume me levantei do meu sossego pra procurar leite na geladeira, não tinha... "Da cerveja você nunca esquece né!?" praguejei voltada pro vidro da janela. Resolvi fazer um café, mesmo sabendo que ele só pioraria minha insónia...

Voltei com o café pra poltrona e pra baixo do meu edredom gelado, e então a porta começou a bater. "Não acredito que deixei a porta aberta!!!". Levantei-me depressa pra impedir que qualquer vento congelante entrasse. E foi quando eu chegava perto da porta que eu senti, vinha algo quente, muito quente. Com tanto medo fui fechando depressa a porta, mas antes que eu pudesse trancá-la aquele ar quente, que tinha até cor, me tomou. Nunca senti tanto calor na minha vida!
E aquele raio infeliz de calor tropical não ia embora! Inferno...
E a noite passou, eu não dormi com tanto calor, eu suava, e virava pro lado, liguei o ventilador e nada, abri a janela e nada. Pra piorar todas aquelas influências das quais eu me mantinha afastada fechando a janela começaram a entrar. Ficou pior...

Mas logo pela manha eu comecei a pensar que não era tão ruim assim, talvez até houvesse sol no outro dia! E afinal de contas eu estava mesmo sentindo frio demais... Foi aí que percebi que o frio de dentro havia passado. Foi aí que eu vi que estava aproveitando os 40° tropicais. Foi aí que dali a pouco eu estava tomando margueritas e deixando meu livro e edredom de lado. Estranho. Abri a guarda.

E então numa infeliz noite daquelas eu acordei. Estava em baixo do meu edredom, ainda sentada na minha poltrona, com a mesma página eterna do livro aberta. O porta batia outra vez. "Mas que infelicidade essa merda de porta!". Levantei com mais frio do que nunca, ia fechar a porta, mas vinha um ventinho tão frio de lá de fora... Reinava o silêncio.
Agora sim eu termino aquele livro infinito.

domingo, 11 de abril de 2010

Agora




Você pediu e eu vou escrever.

Não quero repetir palavras do passado, nem imaginar as que direi no futuro, e isso geralmente não é uma coisa que me ocorre. Escrevo sempre sobre o passado, ou sobre o medo do futuro, mas agora tenho que falar do meu presente, daquele segundo que no mesmo momento em que nasce entra no campo da memória.

O hoje não pode ser compreendido tão facilmente quando o ontem, e não se espera tanto quanto o amanha. Não posso contar a história desse minuto, como você me perguntou ontem como eu contaria essa história e eu respondi que não sei, pois ainda não chegou ao fim, e nós, claro, sempre contamos algo a partir do que já sabemos do fim.

Agora eu tenho medo. Medo do futuro, medo desse instante passar. O agora? Vai muito bem obrigada.
O agora é expectativa, é estudo, felicidade, noites em claro, passeio nas ruas, beijos na tarde de domingo...
O agora é aflição, é uma falta de entendimento do que está acontecendo, no meu corpo, na minha mente, nas minhas ideias pressupostas.
É gosto em ouvir alguma música, é um cantarolar de coisas bestas, é um Coldplay eterno no mesmo ônibus cada dia.
É cheiro no travesseiro, toque da mão, cobertor e vento frio.
É trabalho, desespero, vontade de desistir e encantamento.
É segredo, é mistério, é cochicho ao pé da orelha.

O agora é só o agora, é a insônia com sono que sinto. É a confusão da minha cabeça, a falta de um corpo quente na cama, a mesma na qual dormi sozinha por tanto tempo e depois desses dias não suporto mais.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Na estrada



Segui outra bifurcação da estrada de tijolinhos. Essa estrada de agora é meio cinza, mais perigosa, mas sem dúvida mais divertida.

Como a vida aqui só começa depois do carnaval, acho que ainda estou sentada num dos banquinhos da estrada esperando o alarme apitar pra começar a andar, ou correr.

O engraçado é que nessa nova cama eu não me sinto sozinha, e nem perdida, eu me sinto em casa. É exatamente o que me dá medo, saber que aqui é o meu lugar, e se nada der certo no final? E se no final da estrada não houver outra curva, nem uma outra estrada, nem nada? Vou ter que começar a andar sem saber.

Falavam de um mundo lá fora, que eu ainda não tinha enfrentado, acho que a única coisa estranha nesse mundo aqui fora é que não sei até onde vai estrada, em quanto tempo ela me levará a outra.

O que sei até agora é que tudo nessa estrada é exatamente como eu queria que fosse, não paro de pensar na sorte que tenho em tudo isso. Mas de certa forma que trilhou o caminho até chegar aqui fui eu, e como diria um poeta espanhol “El camino se hace al andar”.

As vezes eu fico olhando para trás, procurando os outros, que seguiram alguma outra estrada, e não consigo deixar de pensar onde é que a minha se cruza com a deles, eu espero que logo, e que alguns poucos sentem comigo num banco, por pouco tempo, pra tomar uma Brahma ou fumar um palheiro.

É, o que eu vejo agora é uma reta, meio infinita, mas que abre um espaço enorme só pra mim. A estrada que me quer, tanto quanto eu a quero.